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sexta-feira, 30 de março de 2012

Estranhamento

Estranho é não sentir saudade de alguém que se foi,

mas de quem um dia alguém foi...

 

 
 

A arte de ser avó/(avô (Rachel de Queiroz)

Netos são como herança. Você ganha sem merecer.
Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu...
É, como dizem os ingleses, um ato de Deus. Sem se passarem
as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as
dores da maternidade.E não se trata de um filho apenas suposto.
O neto é, realmente, o sangue do seu sangue, filho do filho,
mais filho que filho mesmo...
  
Cinqüenta anos, cinqüenta e cinco... Você sente, obscuramente,
nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que se esperava.
Não lhe incomoda envelhecer, é claro.
A velhice tem suas alegrias, as suas compensações:
todos dizem isso, embora você, pessoalmente, ainda não as tenha
descoberto, mas acredita. Todavia, também, obscuramente,também
sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade.
Não de amores com suas paixões:
a doçura da meia idade não lhe exige essa efervescência.
A saudade é de alguma coisa que você tinha e que lhe fugiu, sutilmente,
junto com a mocidade. Bracinhos de criança.
O tumulto da presença infantil ao seu redor.
Meu Deus, para onde foram as suas crianças?
Naqueles adultos cheios de problemas que hoje são os filhos,
que tem sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento e prestações,
você não encontra de modo algum as suas crianças perdidas.
São homens e mulheres - não são mais aqueles que você recorda.
E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias
da gestação ou do parto, o doutor lhe coloca nos braços um bebê.
Completamente grátis. Nisso é que está a maravilha.
Sem dores, sem choro, aquela criancinha da qual você morria de
saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha,
longe de ser um estranho, é um filho seu que lhe é devolvido.
E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito de o amar com
extravagância. Ao contrário, lhe causaria espanto, decepção se você não
o acolhesse com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava
desdenhado no seu coração.
Sim, tenho a certeza de que a vida nos dos dá netos para nos compensar
de todas as perdas trazidas pela velhice. São amores novos, profundos
e felizes, que vem ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos
arroubos juvenis. E, quando você vai embalar o menino ao som de
"passarinho como vai" ele, tonto de sono abre os olhinhos e diz :
"Vovó", seu coração estala de felicidade, como pão no forno! "

domingo, 25 de março de 2012

De repente, 60 (texto de Regina de Castro Pompeu)

Regina de Castro Pompeu, terceira colocada no Prêmio Longevidade Bradesco de Jornalismo, Histórias de Vida, com o texto "De repente 60"
De forma despretensiosa, inscrevi um texto no concurso Prêmios Longevidade Bradesco Histórias de Vida.
Estou chegando de São Paulo, onde fui participar da premiação.
Mandaram um motorista me buscar e me trazer e fiquei num super-hotel nos Jardins, acompanhada de meu príncipe consorte rs rs rs rs.
Entre quase 200 concorrentes, conquistei o 3º lugar, com direito a troféu e diploma.
Mas, sinto como se tivesse recebido o Oscar, pois os primeiros colocados foram jovens que trabalharam por alguns anos para escrever histórias que mereciam ser contadas.
Meu texto foi o único produzido pela própria protagonista.

O tema central era o Relacionamento Intergeracional.

Quase caí da cadeira quando Nicete Bruno, jurada especial me perguntou: "Você é a Regina? Queria muito conhecê-la. Adorei seu texto!!"
Tive, ainda, o privilégio de ser fotografada ao lado da convidada especial, Shirley MacLaine.
É muita emoção, que gostaria de compartilhar com vocês.
Abaixo, o texto premiado.
Beijos
Regina
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DE REPENTE 60 (ou 2x30)
Ao completar sessenta anos, lembrei do filme "De repente 30", em que a adolescente, em seu aniversário, ansiosa por chegar logo à idade adulta, formula um desejo e se vê repentinamente com trinta anos, sem saber o que aconteceu nesse intervalo.
Meu sentimento é semelhante ao dela: perplexidade.
Pergunto a mim mesma: onde foram parar todos esses anos?
Ainda sou aquela menina assustada que entrou pela primeira vez na escola, aquela filha desesperada pela perda precoce da mãe; ainda sou aquela professorinha ingênua que enfrentou sua primeira turma, aquela virgem sonhadora que entrou na igreja, vestida de branco, para um casamento que durou tão pouco!Ainda sou aquela mãe aflita com a primeira febre do filho que hoje tem mais de trinta anos.
Acho que é por isso que engordei, para caber tanta gente, é preciso espaço!
Passei batido pela tal crise dos trinta, pois estava ocupada demais lutando pela sobrevivência.
Os quarenta foram festejados com um baile, enquanto eu ansiava pela aposentadoria na carreira do magistério, que aconteceu quatro anos depois.
Os cinquenta me encontraram construindo uma nova vida, numa nova cidade, num novo posto de trabalho.
Agora, aos sessenta, me pergunto onde está a velhinha que eu esperava ser nesta idade e onde se escondeu a jovem que me olhava do espelho todas as manhãs.
Tive o privilégio de viver uma época de profundas e rápidas transformações em todas as áreas: de Elvis Presley e Sinatra a Michael Jackson, de Beatles e Rolling Stones a Madonna, de Chico e Caetano a Cazuza e Ana Carolina; dos anos de chumbo da ditadura militar às passeatas pelas diretas e impeachment do presidente a um novo país misto de decepções e esperanças; da invenção da pílula e liberação sexual ao bebê de proveta e o pesadelo da AIDS. Testemunhei a conquista dos cinco títulos mundiais do futebol brasileiro (e alguns vexames históricos).
Nasci no ano em que a televisão chegou ao Brasil, mas minha família só conseguiu comprar um aparelho usado dez anos depois e, por meio de suas transmissões, vi a chegada do homem à lua, a queda do muro de Berlim e algumas guerras modernas.
Passei por três reformas ortográficas e tive de aprender a nova linguagem do computador e da internet. Aprendi tanto que foi por meio desta que conheci, aos cinquenta e dois anos, meu companheiro, com quem tenho, desde então, compartilhado as aventuras do viver.
Não me sinto diferente do que era há alguns anos, continuo tendo sonhos, projetos, faço minhas caminhadas matinais com meu cachorro Kaká, pratico ioga, me alimento e durmo bem (apesar das constantes visitas noturnas ao banheiro), gosto de cinema, música, leio muito, viajo para os lugares que um dia sonhei conhecer.
Por dois anos não exerci qualquer atividade profissional, mas voltei a orientar trabalhos acadêmicos e a ministrar algumas disciplinas em turmas de pós-graduação, o que me fez rejuvenescer em contato com os alunos, que têm se beneficiado de minha experiência e com quem tenho aprendido muito mais que ensinado.
Só agora comecei a precisar de óculos para perto (para longe eu uso há muitos anos) e não tinjo os cabelos, pois os brancos são tão poucos que nem se percebe (privilégio que herdei de meu pai, que só começou a ficar grisalho após os setenta anos).
Há marcas do tempo, claro, e não somente rugas e os quilos a mais, mas também cicatrizes, testemunhas de algumas aprendizagens: a do apêndice me traz recordações do aniversário de nove anos passado no hospital; a da cesárea marca minha iniciação como mãe e a mais recente, do câncer de mama (felizmente curado), me lembra diariamente que a vida nos traz surpresas nem sempre agradáveis e que não tenho tempo a perder.
A capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo diminuiu, lembro de coisas que aconteceram há mais de cinquenta anos e esqueço as panelas no fogo.
Aliás, a memória (ou sua falta) merece um capítulo à parte: constantemente procuro determinada palavra ou quero lembrar o nome de alguém e começa a brincadeira de esconde-esconde. Tento fórmulas mnemônicas, recito o alfabeto mentalmente e nada! De repente, quando a conversa já mudou de rumo ou o interlocutor já se foi, eis que surge o nome ou palavra, como que zombando de mim...
Mas, do que é que eu estava falando mesmo?
Ah, sim, dos meus sessenta.
Claro que existem vantagens: pagar meia-entrada (idosos, crianças e estudantes têm essa prerrogativa, talvez porque não são considerados pessoas inteiras), atendimento prioritário em filas exclusivas, sentar sem culpa nos bancos reservados do metrô e a TPM passou a significar "Tranquilidade Pós-Menopausa".
Certamente o saldo é positivo, com muitas dúvidas e apenas uma certeza: tenho mais passado que futuro e vivo o presente intensamente, em minha nova condição de mulher muito sex...agenária!

terça-feira, 20 de março de 2012

segunda-feira, 19 de março de 2012

Peso

O que 20 anos fazem com uma pessoa!!!


Éramos tão magrinhos...

Magrinhos de dores,

magrinhos de prevenções,

magrinhos de amarguras,

magrinhos de desilusões,

magrinhos de ressentimentos,

magrinhos de decepções,

magrinhos de culpas,

magrinhos de frustrações,

magrinhos de mágoas,

magrinhos de medos,

magrinhos de fel...


Éramos leves...


terça-feira, 13 de março de 2012

Enlace

Desejo a alegria
para ser minha companheira de todas as horas!
Quero me casar com a alegria, grudar nela,
me misturar com ela.
Escolho a alegria para a vida toda,
pra ficar do meu lado,
na minha frente, atrás de mim …
dentro de mim!
Quero a alegria minha amiga, minha irmã,
minha mãe e minha filha...
minha sombra!
Para todo o sempre,
Amém!

Mil vidas

Às vezes me dá tanta vontade de viver outras vidas,

diferentes da minha,

que acho que se fosse atriz não sairia nunca mais do personagem...

Até começar outro...

quinta-feira, 8 de março de 2012

Nada


Já vivi tanta coisa nessa vida...

Assisti tantos filmes, ouvi tantas canções,
cheirei tantos perfumes...
Perdi as contas de quantos livros já li...
De quantos poemas já escrevi...
De quantas vezes me emocionei
assistindo um filme, uma novela...
Ouvindo uma canção...

Ah! Quantas canções já me arrebataram!
Quantas personagens já me fascinaram!
Quantas personagens já me encantaram!
Quantas histórias já me eletrizaram!
Quantas histórias já me encantaram!
Quanto a vida já me fascinou!


Já me extasiei com o por do sol e com o mar.
Já me fascinei pelo mar e pelo sol.
Já me encantei com coisas insignificantes.
Já me encantei e me desencantei
mais vezes do que seria sensato.

Já cuidei.
Já fui cuidada.
Já fui princesa, patinho feio, rainha,
bruxa e gata borralheira.
Já fui estrela, deusa, feiticeira e fantasma.

Já acreditei em contos de fadas.
Já construí castelos de areia.
Já mergulhei de cabeça em poço sem fundo.
Já embarquei em barca furada
como se fosse tábua de salvação.

Já ansiei loucamente pelo impossível.
Já suspirei de alegria e de tristeza.
Já me apaixonei.
Já entreguei meu coração sem restrições
a quem não merecia.
Já me entreguei com uma entrega
que ninguém mais saberia.


Já sonhei, já fui acordada.
Já vivi num pesadelo, já acordei.
Já flutuei nas nuvens.
Já caí das nuvens.
Já tomei banho de água fria.

Já vivi conto de fadas.
Já vivi filme de terror.
Já fiquei em estado de graça.
Já entrei em pane.

Já amei incondicionalmente.
Já amei de tantas diferentes maneiras...
E sempre com tanta intensidade...
Já me joguei de cabeça e mergulhei fundo
sem saber nadar...
Sem rede de proteção...

Já apostei todas as minhas fichas sem saber jogar.
Já me agarrei à dor como um bote salva-vidas.
Já senti todos os tipos de sentimento.

Já acreditei, já desacreditei. Infinitas vezes.
Já perdi a esperança muitas vezes...
E já reencontrei outras tantas.
Já vi minha ingenuidade ser destruída.
Já tive ilusões e desilusões.

Já tive o coração despedaçado.
Já engoli tanta coisa até sufocar.
Já me estiquei até quase me romper ao meio.
Já me desesperei.

Já sangrei de todas as maneiras.
Já quis ser uma planta.
já quis morrer,
mesmo sabendo que a morte não existe.
Já renasci tantas vezes...

Já coloquei minha vida nas mãos
de outra pessoa.
Já vivi a vida de outra pessoa.
Já recebi gestos inesperados
de pessoas inesperadas...
Já derramei um rio de lágrimas.

Já vivi emoções tão fortes
a ponto de pensar que o coração explodiria.
Distribui beijos e abraços sem economia.
Fui (e sou) mãe de todas as maneiras possíveis.
E mulher também.

Tive meus momentos.

Então porque me sinto assim?
Como se não existisse?
Como fosse nada?
Como se não tivesse valor algum?