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quarta-feira, 31 de julho de 2013

Engasgo

Desculpe o transtorno.
Acredite, não vai querer saber como me sinto.
Às vezes meus sentimentos podem não ser bonitos nem louváveis.
E não me orgulho disso.
Mesmo assim, é assim que me sinto.
Sei que não quer absolutamente saber o que sinto.
Não há lugar para o que sinto.
Meus sentimentos são fora de propósito e não têm cabimento.
Mas o fato é que sinto mesmo assim.
Não há dimensão para a culpa que sinto.
De repente o sentimento mais lindo, puro e verdadeiro parece ser feio, errado, mau.
E uma voz dentro de mim não se cansa de repetir que quem deveria estar sofrendo era eu.
Porque eu é que sou a pecadora.
Afinal, desobedeci o que foi mandado.
Desculpe a minha fraqueza.
Desculpe a minha humanidade.
Um dia serei capaz de dizer: 
"Sei que não deveria sentir tal coisa, mas dane- se, é tal coisa que estou sentindo."
Por enquanto sou eu que vivo eternamente engasgada.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Bemquerer

Quem ama quer bem. 
Quem ama não quer dominar.
Quem ama não quer possuir.
Quem ama não quer ser dono.
Quem ama quer ver feliz.
Quem ama quer o Bem.

sábado, 27 de julho de 2013

quarta-feira, 24 de julho de 2013

terça-feira, 23 de julho de 2013

Inútil

Tem coisas
que eu preferia não saber,
já que não posso resolver,
não me pertencem,
não são minha responsabilidade, 
não dependem de mim,
não são da minha alçada
e me doem muito.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Voz

À parte a triste e lamentável violência de alguns que absolutamente não nos representam, mostramos que sabemos ir às ruas não apenas para torcer para a nossa amada seleção ou para ver e fazer o espetáculo chamado Carnaval, mas também para gritar e mesmo cantar as nossas insatisfações, necessidades, desejos e reivindicações, a nossa sede e fome de mudanças.
Democracia se aprende exercitando.
# PARABÉNS BRASIL

sexta-feira, 12 de julho de 2013

O útero, o colo e o beijo

Só é príncipe
porque é filho da rainha. 

Só é encantado
porque a princesa o encantou.
 
O que seria do homem
sem o poder da magia feminina?

Sentimento patriótico

Sem nunca ter consultado o dicionário para saber o verdadeiro sentido e a diferença (se é que existe) entre essas duas palavras, tenho a minha própria definição (pessoal, intuitiva, afetiva) para nacionalismo e patriotismo.
 
Nesse sentido, sou contra o "nacionalismo", que para mim significaria exaltação do seu próprio país em detrimento dos outros, tipo se achar superior (me lembra um pouco "nazismo"), tipo "eu sou o bom e o resto do mundo que se dane", ou "eu sou o bom e o resto do mundo é lixo" (como fazem os estadunidenses).
Já patriotismo para mim soa como sinônimo de AMOR à pátria, AMOR ao meu país.
E, eu confesso, eu amo meu país. Mesmo não acreditando em fronteiras e estando convicta de que somos todos membros de uma só grande família chamada Humanidade, amo de maneira particular e especial o meu país, assim como a minha cidade, a minha família.
Nesse sentido, confesso sem vergonha e com orgulho que sou patriota.
Confesso que amo as cores da nossa bandeira e que me emociono profundamente com o nosso Hino Nacional. Que aliás, convenhamos, é o hino mais lindo do mundo. Tudo bem que o que a letra dele diz não seja historicamente verdadeiro, se tomado ao pé da letra,  mas é simbólico,  absolutamente poético. Um dos mais belos poemas e uma das mais belas melodias que conheço, independentemente de ser um hino.
Amo e tenho orgulho da diversidade ("racial", cultural, religiosa, etc etc etc.) do meu país, cujo lema para mim é: "o que o mundo separa, o Brasil junta."
Amar é enxergar e valorizar o melhor e se esforçar pra melhorar o pior. É exaltar as qualidades e dedicar-se com afinco a tentar consertar os defeitos.
É esse patriotismo que o Brasil, essa nossa tão jovem nação, precisa.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Eu sei, mas não devia (Marina Colasanti)

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.
(1972)

Marina Colasanti
 nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por falar em Amor; Contos de Amor Rasgados; Aqui entre nós, Intimidade Pública, Eu Sozinha, Zooilógico, A Morada do Ser, A nova Mulher, Mulher daqui pra Frente e O leopardo é um animal delicado. Escreve, também, para revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.

O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.

Renascer

Todos os dias acordar
é como nascer de novo.

Num parto difícil,
meu corpo se enrosca
em posição fetal.

Abraçando o travesseiro no coração,
luta bravamente contra a mente
que diz "levante-se".
 
Recusando-se a deixar
o casulo útero cobertor.

Casa

Prefiro me sentir rainha
num casebre
que gata borralheira
num castelo.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Vontade

Quando não vejo,
posso até pensar
que não tenho.

Quando vejo,
penso que até
posso ter.

Quando me toca,
toma conta de mim.